DISSONÂNCIAS DO ESG COM A SOCIEDADE CIVIL

Na crise humanitária da Covid-19, vimos a ascensão acelerada do acrônimo ESG (Environmental, Social and Governance/Ambiental, Social e Governança) se incorporar à gestão e narrativa das empresas, pautando uma nova conversação na sociedade.

A pandemia nos elencou a um tempo de incertezas, reforçando desigualdades e, sob a mesma ameaça, países em desenvolvimento ou desenvolvidos tiveram suas fragilidades sociais expostas. O lockdown na pandemia também revolucionou a interação em rede na sociedade global, conectando ativistas de todos os continentes do planeta, em causas, propósitos comuns e transversais, que permeiam e questionam o modelo econômico do capitalismo predominante do século XX.

Neste cenário de incertezas, empresas e governos passaram a ser pressionados pela sociedade civil sobre sua real conectividade com o tecido social na solução dos problemas, num mundo em grave crise de confiança institucional. Como uma espécie de resposta do mercado às novas demandas e pressões, o ESG, que foi proposto pela primeira vez em 2004, no relatório Who Wins Care, ascendeu, em 2020, como modelo de ativismo corporativo e ocupação das empresas nos espaços de fala social, ambiental e de ética – e teve como principal fundamento a mudança da gestão empresarial, antes focada nos shareholders, para a priorização do relacionamento com os stakeholders.

Esta transição, no entanto, exige a repercepção da gestão, da cultura e das práticas das empresas, como parte integrante do processo de recuperação da confiança com a sociedade civil. Como todas as transformações requerem tempo, acompanhamos também o surgimento de neologismos, como ESGWashing, SocialWashing e GreenWashing, que colocam em xeque a transparência das companhias neste processo.

Mas será que o ESG realmente já tem a capacidade transformadora para nos alçar ao capitalismo mais consciente? Será que as empresas vão ocupar um papel de ativismo social e ambiental, de forma transparente, engajada e conectada com as novas demandas da sociedade civil? Ou entre narrativa e prática, há um longo caminho para priorizar os impactos sociais e ambientais de seus processos produtivos (com transformação em toda a cadeia de valor), o que exige uma governança cada vez mais transparente e ética.

Neste estudo, analisamos a conversação digital sobre ESG no período de 2019 a 2021. Em um breve comparativo entre os EUA e
Brasil, analisamos 3,3 milhões de menções, com o início da ascensão do tema nos dois países, além dos picos de engajamento relacionados a fatos de grande impacto social. Abordamos também os perfis que estão influenciando na conversação no ambiente digital para, assim, entender onde ela está acontecendo, quais temáticas ambientais, sociais e de governança são as mais abordadas e quais os riscos de suas múltiplas ressignificações na jornada. Por fim, concluímos com análise Big Data e uso de IA, buscamos responder se o sentimento sobre ESG está em sinergia ou está desconectado das demandas da sociedade civil, apontando já para a necessidade de reorientação de sua narrativa e gestão.

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