Inovação e sustentabilidade, companheiros na disrupção rumo à economia circular

Em junho o tempo começa a melhorar e parece que a proximidade do verão nos obriga a voltar nosso olhar em direção ao mar. Sobretudo se o tema das Nações Unidas para o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, nos convida a imaginar um oceano sem contaminação por plásticos.

A face visível de um modelo linear

Talvez porque as ilhas de plásticos do oceano sejam a face mais visível de um sistema linear, baseado em produzir, consumir e descartar. A cada ano, 8 milhões de toneladas de plástico, que colocam em risco a vida marinha e humana, destruindo os ecossistemas naturais, são retiradas dos oceanos. No entanto, o problema avança terra adentro, trazendo complexas ramificações e riscos para a competitividade e o desenvolvimento econômico global.

Com uma população em constante crescimento e com cada vez mais consumidores inseridos na classe média, a pressão sobre os recursos naturais e também sobre a gestão dos resíduos que este sistema lança tem aumentado dramaticamente. É precisamente esse o quebra-cabeças que a economia circular quer completar.

A economia circular traz uma nova visão sobre um tipo de relação entre os mercados, clientes e recursos naturais. Transforma o habitual modelo de produzir-consumir-descartar, empregando outros desenhos que favorecem a reutilização.

A aposta espanhola neste novo modelo é inegável. Nas últimas semanas, temos ouvido falar do nascimento do Observatório Espanhol da Economia Circular ou da estratégia espanhola para a Economia Circular, que deverá ser aprovada neste verão.

No entanto, parece que as empresas espanholas ainda não são capazes de romper com o sistema linear. Isso é confirmado pelo primeiro relatório do Observatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), elaborado pela Fundação Bancária “la Caixa”, que aponta que os princípios da economia circular ainda são muito incipientes e estão longe de começar a avançar para a mudança de modelo. O estudo analisa as informações disponíveis sobre as políticas de reutilização, como prolongar a vida útil de produtos, refabricação, reparo e reciclagem. Ao todo, 22 % das empresas não adotam nenhuma destas ações.

Inovação e sustentabilidade, chaves para a disrupção

Por que não encontramos exemplos claros de mudança que vão além da reciclagem? É fato que não é algo que se possa fazer da noite para o dia: isso exige investimento, cultura corporativa e, é claro, aposta na inovação. De acordo com o relatório The New Big Circle (WBCSD), a inovação – seja de produtos, processos internos ou modelos de negócios – é a chave central da economia circular, exercendo a função de uma alavanca na cadeia de valor.

 

O recente estudo “O papel das Diretorias de Sustentabilidade”, publicado pela Associação de Diretores de Responsabilidade Social Empresarial (DIRSE) e pela LLORENTE & CUENCA, ressaltou a importância da estratégia de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) para impulsionar a inovação, de modo a responder a um novo cenário global, onde a incerteza é a norma, em face de fenômenos como a mudança climática, a revolução tecnológica ou a mudança cultural das novas gerações de consumidores e trabalhadores.

Avançar de mãos dadas com os grupos de interesse

As empresas desempenham um papel fundamental na formulação de respostas aos desafios do desenvolvimento sustentável. O setor privado tem o know how, a estrutura e os recursos para oferecer soluções e oportunidades de negócios inovadoras e sustentáveis que respondam às demandas desse contexto marcado pela incerteza.

A inovação social ganha peso como a resposta natural oferecida pelo setor privado, mas exige que as empresas promovam uma inovação aberta, que envolva todos os stakeholders, mantenha um horizonte de longo prazo, integre uma cultura de sustentabilidade e vincule a inovação aos novos desafios da economia sustentável.

Para alcançar este objetivo, é importante que o compromisso com a inovação e a sustentabilidade emanem do mais alto órgão de governança, que este seja integrado à cultura corporativa, e responda às expectativas das partes interessadas.

A necessária aposta pela inovação

A relação entre sustentabilidade, a economia circular e a inovação está clara, assim como sua relação com a competitividade e capacidade de adaptação às demandas de um futuro exigente. No entanto, de acordo com o relatório já mencionado, elaborado na Espanha pelo Observatório ODS, as empresas espanholas ainda estão longe da mudança do modelo. Apenas 11.9 % mencionam ações para prolongar a vida útil de seus produtos, menos de 3 % aplicam soluções de reparo e nenhum caso de remanufatura foi identificado.

Por que não encontramos um único exemplo de inovação disruptiva? Talvez porque a chave esteja justamente na necessidade de fortalecer o vínculo com a inovação. Esse ano, a Comissão Europeia alertou sobre a situação de “emergência” da União Europeia, região que investe 0.8 % menos que os EUA e 1.5 % menos que o Japão em soluções deste modelo.

A situação na Espanha é ainda pior. O último relatório sobre a economia espanhola da Comissão atribuiu à educação, à temporalidade e à escassa inovação os problemas de produtividade da nossa economia. A Europa salienta que é “muito improvável” que a Espanha alcance o objetivo europeu de 2 % do investimento em Inovação e Desenvolvimento (I+D) em 2020 e projeta que este deverá se manter 60 % abaixo dos níveis europeus. Precisamente por isto, quando entrarmos no verão e estivermos lendo, na praia, sobre a nova estratégia espanhola de economia circular, precisamos recordar que todos os esforços serão insuficientes se estes não se apoiarem no diálogo constante com os grupos de interesse e em uma aposta decisiva pela Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.

Autores

Carolina Pérez
Alba Herrero

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